Fazer análise

Por Thayz Athayde

Fazer análise parece, muitas vezes, como se rasgar inteira para arrancar, operar e produzir coisas a partir daquilo que está entranhado dentro de nós. Elas estão tão profundas que nem sequer conseguimos olhar e entender. Como procurar algo que sequer podemos ver?

As costuras que fazemos para aquilo que vamos abrindo se trata dos nossos sintomas. É difícil lidar com o sintoma porque parece que estamos a todo momento mexendo nessa costura, às vezes para sentir que ela existe, outras vezes para reclamar da dor insuportável depois que mexemos ou ainda quando ficamos sem dor e aí vamos mexer para relembrar.

A análise nos permite escolher encarar o vazio da falta da dor. De não a usar como desculpa. De não fazer dela o que nos move. Ela nos deixa de cara com nosso desejo. E nosso desejo não nos completa, ele só escancara o quão incompleto nós somos. Desejar tem a ver com lidar com esse enorme buraco, sem necessariamente costura-lo com nosso sintoma. Mas entender que é um buraco só nosso e que só nós podemos preencher com nossas escolhas.

É preciso enfrentar o que nós somos. De forma incompleta, cheia de falhas e de coisas incríveis que nos movimentam. Enfrentar nossas contradições que não cabem em um filme de mocinhas e vilãs da Disney. Aliás, ninguém precisa caber em nada. Desejo justamente tem a ver com assumir que não precisamos fazer nada, mas que QUEREMOS.

Costumamos falar coisas como "eu quero seguir esse caminho" e horas depois estamos seguindo um caminho diferente do que dissemos, muitas vezes tentando justificar o motivo pelo qual seguiu. Nos responsabilizarmos pelo que falamos (mesmo que possamos falar coisas que não desejamos) é fazer uma reflexão profunda para encharcar nossas palavras com nossos desejos e, consequentemente, com o que nós somos.

Imagem do filme Tudo Sobre Minha Mãe, de Pedro Almodóvar.

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