Quanto tempo o tempo tem?
- Casa Integrar
- 5 de fev. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 7 de mar. de 2019
Por Fernanda Almeida Pedroza
Tempo, tempo, tempo.
Quanto tempo o tempo tem?
Uma pergunta simples ou complexa?
Para mim, muito complexa. Sabe por quê? Acredito que para além de depender do ponto de vista de cada um, também depende da situação e do momento emocional. Explico, dependendo da situação e do meu estado emocional, posso ter a percepção de estar demorando mais ou menos. Por exemplo, posso estar extremamente ansiosa, olhando para o relógio de 5 em 5 minutos e ter a sensação de que o tempo não passa. Outra pessoa pode estar fazendo algo que gosta muito e não vê o tempo passar. Saber quanto tempo o tempo tem é relativo, por isso, complexo, uma pergunta sem fim.
Quantas vezes ouvi das minhas pacientes “eu não faço nada”, “parece que chega o final do dia e mais uma vez não fiz nada”. Elas sentem-se exaustas no final do dia e acreditam que não têm motivo nenhum para essa exaustão.
A minha primeira reação? Surpresa.
Surpresa por conhecer a história delas e saber que não é bem assim. Lembro-me de Claudia (nome fictício), estava num dos seus baixos - dos seus constantes altos e baixos. Estava cansada, exausta da semana e queixando-se de que não fazia nada. Quando a questionei sobre o que fizera –apenas naquele dia - desde que a hora que acordou até o horário da sessão (19h), ela enumerou mais de seis coisas, incluindo o seu trabalho que tomava boa parte de seu dia e era extremamente exaustivo.
A reação dela? Surpresa.
Surpresa por, no momento em que falava, se dar conta das inúmeras coisas que havia feito.
O que acontece com Claudia e tantas outras mulheres? Porque não reconhecemos nossos pequenos passos? Pequenos afazeres? Pequenas conquistas?
Talvez tenham no mínimo três pontos importantes para se observar. O primeiro é a cobrança monstruosa que existe, e sempre existiu, em relação às mulheres. Tem que dar conta da casa, dos filhos (e se não quer ter filhos, o porquê de não ter), do trabalho, do relacionamento (aqui considere a mesma questão com filhos), do mundo. O segundo é a desvalorização que se tem pelo trabalho da mulher. Vivemos em um país onde mulheres não são promovidas para cargos importantes e ganham menos fazendo o mesmo trabalho que um homem. Por fim, o terceiro ponto é a falta de tempo, essa urgência sem fim. Parece que tudo tem que ser para ontem. Afinal, não importa o que nós façamos, sempre tem algo a mais para fazer. E se sempre tem algo a mais para fazer, como vou valorizar o que eu já fiz? Não tenho tempo.
Precisamos para por um momento e nos questionar. Quem estamos procurando agradar? Quem é esse carrasco que gruda em nossas mentes e nos impede de nos orgulharmos de nós mesmas?
Claudia se mantém cansada, mas firme na sua busca constante de orgulhar-se a cada conquista, por menor que seja. Compreendo Claudia, a percepção dela do tempo não é a mesma que a minha. Afinal, é ela quem está no olho do furacão da vida dela. Porém, ela teve a coragem e a determinação de enfrentar o seu carrasco.
E você?
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